A sustentabilidade nas relações trabalhistas

Quando falamos em sustentabilidade é comum pensarmos em questões relacionadas à natureza, ou seja, se aquele produto respeita o meio ambiente em que foi produzido.

Contudo, hoje a ideia de sustentabilidade pode ser vista por um novo viés, de forma mais ampla, e levando em conta outros aspectos relacionados a produção de bens de consumo.

Dentro deste contexto é que surge a possibilidade de analisarmos a sustentabilidade não somente relacionada a questões ligadas ao meio ambiente, mas sim levando em conta toda a cadeia produtiva de um produto.

Com a globalização e a facilidade em adquirir produtos por um preço reduzido, muitas vezes produzidos em outros países, nem sempre refletimos sobre as condições das pessoas envolvidas na produção.

Afinal, apesar da modernização da produção, na maioria dos produtos que adquirimos ainda há as mãos de um ser humano conduzindo o processo.

E este ser humano, trabalhador, nem sempre é respeitado, infelizmente ainda é comum notícias de trabalhadores em condições análogas à escravidão, sendo mantidos reféns dos donos dos meios de produção.

E em meio a este contexto, que ainda reflete o desrespeito aos trabalhadores, surgem iniciativas que precisam ser conhecidas e valorizadas. É o caso da empresa francesa Vert, fabricante de tênis, que após visitar alguns países, escolheu o Brasil para sediar a sua fábrica.

Quando questionados sobre a razão da escolha do Brasil para fabricar os produtos da marca, os fundadores mencionaram que buscavam um lugar que respeitasse o ser humano e a natureza, e dessa forma integraram a ideia de sustentabilidade.

Com essa visão foram na contramão da maioria dos empresários que afirmam que o custo da mão de obra e a legislação trabalhista, que consideram protecionista, acabam por invibilizar negócios no país.

No caso da Vert, o fato do Brasil possuir uma legislação trabalhista, que embora reconheçam não ser perfeita, mas impõe condições mínimas, foi um dos fatores que fizeram escolher o país como local para produzir seus produtos.

Em suas viagens para a escolha do país em que se instalariam, se depararam com inexistência de leis trabalhistas e acesso à justiça, empregados que dormem em alojamentos na própria fábrica e ausência de preocupação com a qualidade de vida dos trabalhadores, é o que acontece nos países asiáticos como o Vietnã e a China, grandes fabricantes de produtos a nível global.

Além disso, a Vert adquire a matéria-prima como algodão e borracha de associações e produtores locais, sendo muitos deles moradores de assentamentos provenientes da reforma agrária.

Também é aliada desta mesma ideia de sustentabilidade a marca brasileira Undo For Tomorrow, que produz no Brasil, respeitando a cadeia produtiva e o ser humano, e que exporta seus produtos com este conceito para a Europa.

E em relação ao valor do produto, que pode ser apontado como alto e não competitivo, via de regra são compatíveis com os concorrentes que produzem sem qualquer preocupação com o trabalhador.

Da mesma forma e integrada ao tema, a ONU definiu objetivos de desenvolvimento sustentável para o Brasil para os próximos anos, e entre eles está o trabalho decente e o crescimento econômico.

Este objetivo prevê a promoção do crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos.

Diante dessas iniciativas, pode-se concluir que estamos em um momento de repensar escolhas, e enquanto consumidores temos a obrigação de pensar no todo, incluindo o ser humano que participou do processo de produção do bem de consumo que estamos adquirindo.

Por meio da nossa decisão consciente, temos a possibilidade de reduzir desigualdades, optando por produtos que protejam os direitos trabalhistas, a promoção de ambientes de trabalho seguros, erradicando os empregos precários, privilegiando empresas que promovam condições dignas aos trabalhadores.

Autora: Naihara Goslar de Lima

Referências:

Tênis Vert: como CLT e agroecologia viraram propaganda do ‘made in Brazil’ na Europa. Acesso em 24/04/2023.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Acesso em 24/04/2023.